sábado, 22 de junho de 2019

É difícil encontrar um homem bom


Não, isto não é uma resenha de um dos livros de Flannery O’Connor. Nem é uma crítica à humanidade. É uma expressão conclusiva de pavor diante da rudeza do sexo masculino.

Me chame de hipócrita ou alienado, tanto faz. Sei que meus cromossomas são XY também (com alguma possível mutação), mas negar a realidade dos fatos é besteira e uma esquizofrenia maior do que admití-la frente a todos.

Que tenho eu a dizer? Logo eu que tenho tão poucas experiências com homens, sou quase uma freira frígida e tímida, que ruboriza diante de qualquer menção a sexo ou contato físico de primeiro grau.

Minhas proposições nascem de situações frustrantes e estressantes, da observação sobre coisas que acontecem à minha volta e através de conversas com minhas amigas mulheres.

Eu estou com as feministas. As feministas autênticas. Não essas revoltadas que saem às ruas mostrar os peitos, ou essas devassas que querem promiscuidade a qualquer custo com direito garantido ao aborto. Se as outras mulheres procuram homens que sejam másculos, bem sucedidos profissionalmente, provedores, com atitude fria e enérgica diante das angústias da vida, líderes e chefes que vão encarnar o papel tradicional de macho, as feministas as quais me refiro querem um homem que seja sensível, introspectivo, letrado e cooperativo.

Mas onde encontrar alguém assim? Este tipo de homem existe, mas é uma raridade em tudo que é lugar.

Durante milênios, a infeliz Mãe-Natureza tem selecionado os homens, geração após geração, através da luta pela sobrevivência, para que sejam congenitamente agressivos, competitivos, arrogantes, destemidos e emocionalmente dissociados do plano intelectual. E a mesma Natureza tem selecionado as mulheres para desejarem este tipo de homem como reprodutor e parceiro ideal.

A classe de homens que destoa deste pútrido cenário emerge quando condições mais aprazíveis permitem seu surgimento, para melhor dizer, nossa queridinha, mas frágil, Civilização.

Não posso negar que a mesma energia masculina que torna os homens detestáveis está presente nos melhores exemplares do gênero, mas operando de maneira diferente. De fato, é através do combustível androgênico que emana a criativa força cultural da história humana. Mas a que preço?
A civilização é guiada, aparentemente, por homens éticos que criam as regras e as fazem serem cumpridas pelos demais indivíduos que compõe a sociedade, criando assim uma sensação, até certo ponto ilusória, de paz e segurança.

Na vida cotidiana o que vemos são homens que confrontaram os desígnios materiais da Mãe-Terra, formando e sustentando um mundo de conforto material mínimo para salvaguardar nossos frágeis organismos, mas que em nada mudaram no que diz respeito às emoções e às relações humanas.

Não defendo cegamente a coletividade do sexo feminino. Mulheres não valem nada também. Mas é inegável que a mulher, ainda que de forma dissimulada, está mais aberta a mudanças neste campo da experiência humana do que seu companheiro de espécie.

O que mais me incomoda na tentativa de um relacionamento franco e amoroso com um homem, é o interesse quase mórbido que ele possui pelo sexo fácil e descompromissado. É verdade que o ideal romântico é uma ilusão que condena a todos os que crêem nele ao fracasso: imagina-se que os beijos não vêm antes do amor, e quando eles vêm, oferecidos por homens perversos, logo o onipotente verdadeiro amor aparece para nos salvar. Por outro lado, se aceitamos passivamente que a crueza do jogo da conquista é inevitável e imutável (ou até mesmo desejável), então estamos ainda mais condenados à barbárie e ao semi-animalesco.

Dirão alguns que a Revolução Sexual é a culpada ao dar liberdade desmedida aos jovens, que agora já não precisam mostrar polidez e bons modos na conquista. Mas não é de bons costumes que estou falando. Falo da superficialidade das relações, do apego às convenções e do desapego aos sentimentos e às paixões.

O que eu procuro é um poeta. Sim, um poeta, ainda que pobre, fracassado e sem rumo. Alguém que eu precise sustentar. Mas que eu saiba que ao chegar em casa, terei todo seu amor e atenção, e que seu coração estará com o meu à uma profundidade que somente sua poesia possa expressar.

À propósito dos poetas, aqui vai uma citação de Rainer Maria Rilke acerca das relações humanas:

“Pois não é apenas a indolência que que faz as relações humanas se repetirem de modo tão monótono e sem renovação de caso a caso, é a timidez diante de qualquer experiência nova, imprevista, para a qual não nos consideramos amadurecidos. Mas apenas quem está pronto para tudo, quem não exclui nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com uma outra pessoa como algo vivo e irá até o fundo de sua própria existência”.

Quero um Rilke para mim.   

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Um nariz grande


Uma grande amiga minha tem algo que a incomoda: um nariz que ela diz ser feio por ser grande demais. Pensando bem, outro amigo reclama pelo mesmo motivo.

Que dizer a respeito? Digo que isso é resultado de uma visão obtusa e imatura sobre questões estéticas.

Diana Vreeland disse:

“Um nariz desprovido de força é um espetáculo lamentável. É uma das críticas que se pode fazer hoje a alguém. Se você nasce com um nariz pequeno demais, a única coisa que lhe resta é querer aumentá-lo.” 

Ela estava certa! E digo isso sem aquele interesse de confortar aqueles que se sentem desconfortáveis com seus narizes proeminentes.

De fato, resgatando lembranças dos anos de frenesi juvenil em torno dos meus ídolos, recordo que as mulheres por quem desenvolvi uma adoração apaixonada e um desejo de incorporação, tinham um nariz grande para os padrões desejáveis: Sarah Michelle Gellar e Gillian Anderson.

O que dizer daquele nariz com lombada da sempre deslumbrante Luciana Vendramini? Ou do nariz saliente da última grande supermodelo, Gisele Bundchen?  Ou do rosto judaico da queridinha dos anos 90, Sarah Jessica Parker, da padaniana Laura Pausini e a beleza etíope, Sara Nuru?  Mulheres fascinantes! Nada de "Nariz Gleice Hoffman"!

Sou da opinião de que uma mulher forte deve ter um nariz forte. Vejam Virgínia Woolf, Edith Sitwell, Maria Callas, Joan Baez, Betty Friedan, Monica Vitti, Raquel Welch, Princesa Diana, Sandra Bernhard, Niki Taylor, Rose Marie Muraro, Grace Gianoukas, Barbra Streisand.



Homens com narizes pequenos sempre foram pouco atraentes para mim, parecem infantis, ou até mesmo primitivos, como se tivessem estacionado em algum estágio de seu desenvolvimento. Não é por acaso que me apaixonei por Haakon Magnus assim que o vi pela primeira vez. Também não é por acaso que meu ator pornô preferido é Tim Kruger, um alemão de perfil altivo; ou que meu crush na faculdade é um narigudo que roubou meu coração.



É possível que a preferência aparentemente unânime por narizes pequenos seja fruto de uma tendência evolutiva para preferir olhares femininos e dóceis em mulheres. Mas pode ser também produto da cultura americana massificante, que tenta neutralizar e apagar todas as diferenças étnicas e raciais.



Sendo meus ancestrais majoritariamente originários da Itália e de Portugal, minhas premissas são mediterrâneas. Vejo um grande poder de sedução nos narizes aquilinos dos senadores e generais romanos, bem como o nariz grego afiado que se vê nas esculturas dos deuses do Olimpo (adoro quando os ossos nasais se encontram com a testa e formam uma linha única).

Além disso, todas as pessoas com quem tenho me envolvido de uma maneira importante têm um nariz forte; parece ser um dos meus motivos românticos.

Ser gay e prole


Provavelmente poucas pessoas possam compreender o sofrimento de se ser gay e prole ao mesmo tempo. Sim, porque, ainda que os homossexuais tenham sido sempre associados à sofisticação, existem aqueles menos afortunados que estão condenados a existir neste mundo sem possuir um elevado nível cultural (e sócio-econômico) ou um grande cabedal de conhecimentos acerca de tudo aquilo que é necessário para ser julgado “ter classe”.

Meu drama me acompanha desde a infância, quando na escola era considerado um aluno “esforçado” ou entre os parentes, que diziam que eu era “inteligente”, mas soando apenas como se estivessem prestando um favor à minha auto-estima, já que soaria ainda mais falso se dissessem que um menino afeminado e magrelo seria bonito, ou ainda, tímido como era, que seria “simpático e talentoso”.

Ao chegar à adolescência, na busca fracassada por uma identidade que me deixasse confortável e com a sensação de pertencimento, ficava ainda mais cabisbaixo ao perceber que os homens gays eram frequentemente bem sucedidos e cultos, quando não, eram sociáveis e espirituosos, donos de um humor refinado e uma personalidade adaptável e agressiva, que jamais se deixariam ser rebaixados.

Ao contrário disso, sempre fui condenado por estar desatualizado, sem conhecimentos básicos sobre História ou Filosofia, desprovido de boa articulação e habilidades verbais suficientes para aprender um novo idioma ou falar com propriedade e segurança sobre as coisas que lia ou via na TV.
Hoje que sou adulto, loser e retardatário, nada mudou, possivelmente apenas se cristalizou, e, se havia alguma chance de mudança em algum momento do meu desenvolvimento, esta foi perdida e agora estou condenado a ser para sempre um gay prole e sem perspectivas.

Talvez este blog não tenha intenção alguma que não seja mero desabafo e reclamação da vida, de Deus, da Natureza, da sociedade, de mim mesmo, mas também, audaciosamente, tentará mostrar que é possível ser assim: um ser sexualmente desviante de baixo status econômico-social e insolente e arrogante a respeito de tudo e de todos.

Caro leitor, seja bem vindo! E se não gostar, dane-se! Guarde seu ressentimento para você.