Não, isto não é uma resenha de um dos livros de Flannery O’Connor.
Nem é uma crítica à humanidade. É uma expressão conclusiva de pavor diante da
rudeza do sexo masculino.
Me chame de hipócrita ou alienado, tanto faz. Sei que meus
cromossomas são XY também (com alguma possível mutação), mas negar a realidade
dos fatos é besteira e uma esquizofrenia maior do que admití-la frente a todos.
Que tenho eu a dizer? Logo eu que tenho tão poucas experiências
com homens, sou quase uma freira frígida e tímida, que ruboriza diante de
qualquer menção a sexo ou contato físico de primeiro grau.
Minhas proposições nascem de situações frustrantes e
estressantes, da observação sobre coisas que acontecem à minha volta e através
de conversas com minhas amigas mulheres.
Eu estou com as feministas. As feministas autênticas. Não
essas revoltadas que saem às ruas mostrar os peitos, ou essas devassas que
querem promiscuidade a qualquer custo com direito garantido ao aborto. Se as
outras mulheres procuram homens que sejam másculos, bem sucedidos
profissionalmente, provedores, com atitude fria e enérgica diante das angústias
da vida, líderes e chefes que vão encarnar o papel tradicional de macho, as
feministas as quais me refiro querem um homem que seja sensível, introspectivo,
letrado e cooperativo.
Mas onde encontrar alguém assim? Este tipo de homem existe,
mas é uma raridade em tudo que é lugar.
Durante milênios, a infeliz Mãe-Natureza tem selecionado os
homens, geração após geração, através da luta pela sobrevivência, para que
sejam congenitamente agressivos, competitivos, arrogantes, destemidos e emocionalmente
dissociados do plano intelectual. E a mesma Natureza tem selecionado as
mulheres para desejarem este tipo de homem como reprodutor e parceiro ideal.
A classe de homens que destoa deste pútrido cenário emerge
quando condições mais aprazíveis permitem seu surgimento, para melhor dizer,
nossa queridinha, mas frágil, Civilização.
Não posso negar que a mesma energia masculina que torna os
homens detestáveis está presente nos melhores exemplares do gênero, mas
operando de maneira diferente. De fato, é através do combustível androgênico
que emana a criativa força cultural da história humana. Mas a que preço?
A civilização é guiada, aparentemente, por homens éticos que
criam as regras e as fazem serem cumpridas pelos demais indivíduos que compõe a
sociedade, criando assim uma sensação, até certo ponto ilusória, de paz e
segurança.
Na vida cotidiana o que vemos são homens que confrontaram os
desígnios materiais da Mãe-Terra, formando e sustentando um mundo de conforto
material mínimo para salvaguardar nossos frágeis organismos, mas que em nada
mudaram no que diz respeito às emoções e às relações humanas.
Não defendo cegamente a coletividade do sexo feminino.
Mulheres não valem nada também. Mas é inegável que a mulher, ainda que de forma
dissimulada, está mais aberta a mudanças neste campo da experiência humana do
que seu companheiro de espécie.
O que mais me incomoda na tentativa de um relacionamento
franco e amoroso com um homem, é o interesse quase mórbido que ele possui pelo
sexo fácil e descompromissado. É verdade que o ideal romântico é uma ilusão que
condena a todos os que crêem nele ao fracasso: imagina-se que os beijos não vêm
antes do amor, e quando eles vêm, oferecidos por homens perversos, logo o onipotente
verdadeiro amor aparece para nos salvar. Por outro lado, se aceitamos
passivamente que a crueza do jogo da conquista é inevitável e imutável (ou até
mesmo desejável), então estamos ainda mais condenados à barbárie e ao
semi-animalesco.
Dirão alguns que a Revolução Sexual é a culpada ao dar liberdade
desmedida aos jovens, que agora já não precisam mostrar polidez e bons modos na
conquista. Mas não é de bons costumes que estou falando. Falo da
superficialidade das relações, do apego às convenções e do desapego aos
sentimentos e às paixões.
O que eu procuro é um poeta. Sim, um poeta, ainda que pobre,
fracassado e sem rumo. Alguém que eu precise sustentar. Mas que eu saiba que ao
chegar em casa, terei todo seu amor e atenção, e que seu coração estará com o
meu à uma profundidade que somente sua poesia possa expressar.
À propósito dos poetas, aqui vai uma citação de Rainer Maria
Rilke acerca das relações humanas:
“Pois não é apenas a indolência que que faz as relações humanas se repetirem de modo tão monótono e sem renovação de caso a caso, é a timidez diante de qualquer experiência nova, imprevista, para a qual não nos consideramos amadurecidos. Mas apenas quem está pronto para tudo, quem não exclui nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com uma outra pessoa como algo vivo e irá até o fundo de sua própria existência”.
Quero um Rilke para mim.